segunda-feira, 15 de junho de 2009



Havia um qualquer sentimento de inconformidade naquele autismo a que se obrigava. Não sabia se por medo, se por incapacidade de comunicar. Sentia-o, apenas e sofria deixada, displicentemente, ao abandono de si própria. Nesses instantes de angústia e de desentendimento, o egoísmo falava mais alto e cercava-se de muros de solidão e de pactos de silêncio. Consumia-a aquela inépcia para desatar pontas aos nós que as partidas da vida lhe pregavam. Era um sentimento letal, abrasivo que raiava o intolerável. Mas também, que conforto poderia existir quando o frio, chegado de mansinho, se aninhava, sem decoro, no sofá da própria vida?
Num jogo de toca e foge perscrutava o espelho mas não havia forma de encontrar o sorriso. Tudo quanto distinguia era um rosto baço, um olhar sem brilho e um rol de pedaços desfeitos dos sonhos que se permitira sonhar. Confinada à exiguidade daquele reflexo, esquadrinhava porquês. Todavia, não se detinha. Era um esforço inútil, pensava. Conhecia, de antemão, todas as respostas…
O inferno, nunca seria a urbe. O inferno era ela própria. Ela e aquela coisa enorme e funda, sem nome nem sentido, que abjurava mas que a incendiava, que ardia e se propagava dentro dela, como um tenebroso foco de infecção…
À beira do abismo, vacilava, entregue aos seus pensamentos. Os olhos cerrados cediam sob o peso das pálpebras. Sentia-se uma flor de chuva plantada no topo mais íngreme de uma falésia violentamente açoitada pelo mar. A partir da praia, era um minúsculo ponto sem importância, muitos poderiam observá-la mas só com um enorme esforço alguém a poderia alcançar…
Tendergirl
(In “Ilhas de Solidão – Estórias da Vida de Uns e Outros”)

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