quarta-feira, 10 de junho de 2009

chuva



chuva
hoje chove muito, muito,e parece que estão lavando o mundo.
meu vizinho do lado contempla a chuva e pensa em escrever uma carta de amor/uma carta à mulher que vive com ele e cozinha para ele e lava a roupa para ele e faz amor com ele/e parece sua sombra/meu vizinho nunca diz palavras de amor à mulher/entra em casa pela janela e não pela porta/por uma porta se entra em muitos lugares/no trabalho, no quartel, no cárcere,em todos os edifícios do mundo/mas não no mundo/nem numa mulher/nem na alma/quer dizer/nessa caixa ou nave ou chuva que chamamos assim/como hoje/que chove muito/e me custa escrever a palavra amor/porque o amor é uma coisa e a palavra amor é outra coisa/e somente a alma sabe onde os dois se encontram/e quando/e como/mas o que pode a alma explicar?/por isso meu vizinho tem tormentas na boca/palavras que naufragam/palavras que não sabem que há sol porque nascem e morrem na mesma noite em que amou/e deixam cartas no pensamento que ele nunca escreverá/como o silêncio que há entre duas rosas/ou como eu/que escrevo palavras para voltar ao meu vizinho que contempla a chuva/ à chuva/ao meu coração desterrado/

Nenhum comentário:

Postar um comentário